Os desafios da transição escolar.26.05.15
Modificar o ambiente das salas coloridas, as carteiras organizadas em grupo e toda a esfera de informalidade da Educação Infantil, rumo à “seriedade” do Ensino Fundamental não costuma ser tarefa fácil para os pequenos. A mudança, que para eles parece aterrorizante, é potencializada por muitos pais que, na melhor das boas intenções, acabam fomentando esse medo com comentários nada amistosos: “Ano que vem acabou a brincadeira, filho! Lá no 1°Ano , a coisa é para valer!“; ou ainda, “Quero ver no próximo ano, em que terá prova. Aí, o bicho vai pegar!”, entre outros tantos.
Mesmo já frequentando a “escolinha” desde os três, ou quatro anos (agora obrigatoriedade nacional), deve parecer assustador que, no próximo passo da vida, tudo mude em um piscar de olhos. Ou melhor, tudo acontece depois das férias, pois termina um ano na Educação Infantil e, ao voltar às aulas, um ou dois meses depois, começa o Ensino Fundamental. As brincadeiras já não são tão livres, já não há a liberdade para falar e movimentar-se em sala de aula. A criança percebe que realmente é hora de aprender a ler, escrever e tudo mais. “Papai e mamãe estavam certos. Aqui, a coisa é séria!”.
Para a pedagoga e escritora Jeanine Rolim, muitas escolas fazem um excelente trabalho nesse processo de transição, garantindo a segurança necessária aos alunos. “O trabalho de preparação para essa transição deve acontecer durante todo o ano que antecede a mudança, pois conhecer o novo afasta de nós, humanos, a possibilidade do medo e a exacerbada expectativa sobre o desconhecido”, explica. Ela sugere que professores conversem com os alunos sobre o que eles imaginam no novo ano ou, ainda, compartilhem relatos de estudantes do 1º. ano, caso a escola ofereça esse segmento. Tudo isso pode ter grande valia. Na sociologia, esse processo é chamado de “aproximação sucessiva”. “Aos pouquinhos, o ‘objeto do medo’ torna-se presente no dia a dia dessa criança, promovendo uma dessensibilização diante dele”, esclarece.
No entanto, é possível encontrar transições menos amenas e despreocupadas com o sentir da criança, com casos – felizmente mais raros, mas ainda existentes – em que a própria escola faz uso dessa espécie de coação nos alunos, aumentando a dificuldade dessa “passagem”. “A mudança é muito mais complexa do que se imagina. Em casa, os pais também mudam a sua rotina, o filho agora usa outro uniforme, leva mais material, etc. Na escola, os professores mudam suas estratégias de abordagem e aplicação das atividades, de disposição do espaço escolar e de avaliação, ou seja, tudo muda, mas as crianças continuam sendo crianças”.
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